quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Os pantomineiros



Entre outros epítetos, Almada Negreiros apodou Júlio Dantas de pantomineiro. Hoje em dia não deixamos de ter os novos pantomineiros, muito menos literatos, mas de outro tipo. São aqueles que enchem a boca com a defesa dos desfavorecidos da sociedade e que ao mesmo tempo que sugerem uma redução do imposto sobre os rendimentos, se propõem aumentar os impostos indiretos. Isto é uma verdadeira pantominice! Pois alguém acredita que essa gente não saiba que os impostos indirectos têm um carácter regressivo na distribuição do rendimento? Em 2008, Warren publicou “A Review of Studies on the Distributional Impact of Consumption Taxes in OECD Countries”, onde chegou à conclusão de que os impostos sobre o consumo têm maior impacto nos mais pobres, já que estes consomem uma maior percentagem do seu rendimento, pelo que pagam mais impostos sobre o consumo por comparação com o rendimento disponível. À mesma conclusão haviam já chegado O’Donoghue, Baldini e Mantovani em 2004 no estudo intitulado “Modelling the redistributive impact of indirect taxes in Europe: an application of EUROMOD” e a OCDE em 2007 (Consumption Taxes: The Way of the Future?). As esquerdas usam e abusam de uma narrativa assente num suposto compromisso com o povo e os trabalhadores e no combate às desigualdades sociais, mas na prática as suas políticas acabam por prejudicar os mesmos que dizem querer proteger.

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