Entre outros epítetos,
Almada Negreiros apodou Júlio Dantas de pantomineiro. Hoje em dia não deixamos
de ter os novos pantomineiros, muito menos literatos, mas de outro tipo. São
aqueles que enchem a boca com a defesa dos desfavorecidos da sociedade e que ao
mesmo tempo que sugerem uma redução do imposto sobre os rendimentos, se propõem
aumentar os impostos indiretos. Isto é uma verdadeira pantominice! Pois alguém
acredita que essa gente não saiba que os impostos indirectos têm um carácter
regressivo na distribuição do rendimento? Em 2008, Warren publicou “A Review of
Studies on the Distributional Impact of Consumption Taxes in OECD Countries”,
onde chegou à conclusão de que os impostos sobre o consumo têm maior impacto
nos mais pobres, já que estes consomem uma maior percentagem do seu rendimento,
pelo que pagam mais impostos sobre o consumo por comparação com o rendimento
disponível. À mesma conclusão haviam já chegado O’Donoghue, Baldini e Mantovani
em 2004 no estudo intitulado “Modelling the redistributive impact of indirect taxes
in Europe: an application of EUROMOD” e a OCDE em 2007 (Consumption Taxes: The Way
of the Future?). As esquerdas usam e abusam de uma narrativa assente num
suposto compromisso com o povo e os trabalhadores e no combate às desigualdades
sociais, mas na prática as suas políticas acabam por prejudicar os mesmos que
dizem querer proteger.
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